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Decadência Política: O esgotamento do capital político do presidente

 

*Márcio Coimbra

Lula é classificado como um líder político habilidoso, capaz de governar com facilidade, criar maiorias no parlamento, encantamento nas ruas e condescendência da imprensa. Seu terceiro mandato, entretanto, tem sido diferente. Longe das características que o levaram a deixar o Planalto em 2010 com uma popularidade que beirava os 87%, Lula hoje enfrenta seus mais baixos índices de aprovação, com cerca de 46%, e seu governo tem números ainda piores, de 41%.
 

Fato é que muitos se perguntam se ele perdeu a magia ou a capacidade de mobilizar apoios como no passado. Na verdade, estamos falando sobre uma série de fatores que, somados, provam essa tese. Entretanto, existe um fato que raramente é considerado nessa equação: Lula jamais foi uma figura dotada de uma qualidade ímpar no campo da articulação, mas alguém que tinha, em torno de si, nomes que foram capazes de gerir seu capital político. Longe deles, Lula se tornou um político comum.
 

Neste terceiro mandato, Lula cometeu um dos erros mais prosaicos da política, aquele que mostra a principal fraqueza de um mandatário: cercou-se de pessoas que apenas concordam com tudo que diz e opina, chamados na política americana de “yes man”. Essas pessoas servem apenas para aplaudir, porém jamais para ponderar, opinar, discordar e oferecer visões diferentes. Um erro comum, mas fatal nas esferas de poder.
 

Isso explica a guinada à esquerda depois de uma eleição que venceu pelo centro. Lula poderia ter construído um terceiro mandato de união nacional pelo centro político, algo que certamente redirecionaria o país da polarização em quatro anos. Sua aposta, contudo, foi no sentido oposto, e os resultados começam a ser colhidos em uma onda crescente de impopularidade, que pode levá-lo à primeira derrota eleitoral desde 1998.
 

Justamente pela falta de visões diferentes em torno de si, surgiu, neste mandato, um Lula em estado puro, apresentando um governo datado, ultrapassado, vacilante, fora de foco ou sintonia com as ruas e com os desafios internacionais atuais. Vemos programas serem reeditados, boas ideias desprezadas, um modelo superado de comunicação e uma administração refém de pautas que não dialogam com a sociedade e as demandas dos brasileiros. Lula governa para um país que somente ele acredita que ainda existe.
 

Ao redor de si, o Presidente não possui sequer um dos nomes que estavam na condução da política quando chegou ao Planalto. Alguns se afastaram de sua órbita cotidiana, como Luiz Dulci e Gilberto Carvalho. Muitos foram atingidos pelas operações contra corrupção, como José Dirceu e Antônio Palocci. Houve quem optasse pelo caminho da aposentadoria, como José Genoíno, e alguns faleceram, como Márcio Thomaz Bastos e Luiz Gushiken. Isso significa que todos aqueles nomes influentes e com acesso direto a Lula não circulam mais pelos corredores do Planalto. Hoje, o Presidente é cercado por uma plateia disposta a aplaudir e bajular, em vez de possuir assessores e líderes políticos dispostos a construir e contribuir.
 

Lula é um líder político em decadência, alguém sem o viço de outros tempos, que deixou de cativar, inspirar ou influenciar as pessoas como antes. Talvez seja tarde demais para corrigir esse erro. Hoje, temos um Presidente refém de si mesmo.
 

*Márcio Coimbra é presidente do Instituto Monitor da Democracia e conselheiro da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Cientista político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal.

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