
Mercado de ONGs e organizações beneficentes cresce a um CAGR de 6,6%, mas contabilidade defasada impede financiamento público-privado.
Até o ano de 2029, a Research and Markets projeta um aquecimento de US$ 443,2 bilhões no mercado de ONG’s e organizações beneficentes, segundo o relatório ‘NGOs and Charitable Organizations Market Report 2025’.
Vinculadas ao ‘terceiro setor’ da economia, a taxa de crescimento anual composta (CAGR) se manteve estável – no patamar de 6,6%. O relatório vincula o atual crescimento à força dos mercados emergentes e o aumento das doações públicas, sob incremento das parcerias privadas.
Movimentando US$ 353,21 bilhões em 2025, o segundo semestre deste ano deve ser o mais desafiador para o segmento. Em vista do impulso significativo pelo financiamento governamental, previsto pelo relatório, diversas organizações não governamentais devem receber fundos e aprimorar a prestação de serviços.
Apesar das expectativas, a diretora da Brasís Contabilidade, Cristiane Almeida, explica que o setor é mantido por doações, taxas associativas, patrocínio e repasse de verbas públicas, portanto, é essencial que estejam com os registros financeiros em dias, seguindo as normas contábeis específicas – a fim de não correr o risco de perder o financiamento.
Englobando ONG’s, fundações, associações, cooperativas e organizações religiosas, Cristiane alerta que o ‘terceiro setor’ está igualmente suscetível às metas de gestão de recursos humanos, cumprimento das obrigações de pagamento de salários, 13º salário e até verbas rescisórias. Na visão da especialista, o aquecimento do mercado com as doações da parceria público-privada só poderá ser mantido com a credibilidade do segmento.
“Embora o setor esteja em crescimento, é preciso continuar demonstrando transparência e comprometimento na utilização dos recursos. No final do exercício, que costuma beirar o 2º semestre anual, as organizações devem estar preparadas para emitir o Balanço, Demonstração do Resultado do Período, Demonstrações das Mutações Patrimoniais e Demonstração do Fluxo de Caixa”, elucida.
A contadora destaca ainda a importância da nova Lei nº 15.068, de 23 dezembro de 2024, conhecida como ‘Lei Paul Singer’, que regulamenta a Economia Solidária no Brasil. “Essa legislação representa um marco para o setor, pois permite que empreendimentos se organizem de forma coletiva e democrática, promovendo não apenas a geração de renda, mas também o desenvolvimento local com foco na sustentabilidade e na justiça social. Além disso, o acesso a crédito, assistência técnica e incentivos ao comércio são ferramentas que fortalecem o crescimento dessas iniciativas”, explica a contadora.
Na prática, Cristiane afirma que a contabilidade e suas nuances são aliadas para identificar possíveis inconsistências das operações nos registros contábeis, fiscais, trabalhistas e orientar para as correções dentro do ano-calendário, fazendo as correções em tempo hábil. A profissional correlaciona a necessidade contábil ao investimento em análises descritivas, a fim de gerar “insights acionáveis” – previstos no ‘NGOs and Charitable Organizations Market Report 2025’.
“A análise de dados contábeis é essencial para orientar decisões estratégicas, pois permite mensurar com clareza a situação financeira da organização. Isso dá suporte aos gestores na definição de metas, no planejamento de captação de recursos e na alocação eficiente dos fundos disponíveis. Além disso, demonstra como os recursos vêm sendo utilizados e quanto ainda é necessário captar para garantir a continuidade dos projetos e da estrutura institucional”, conclui.