A tensão política subiu de tom na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). O presidente do PL Jovem DF, Evandro Araújo, desafiou publicamente o deputado distrital Fábio Félix (PSOL), que comanda a Comissão de Direitos Humanos da CLDF, a abrir espaço para ouvir os familiares dos presos do 8 de Janeiro e representantes da Associação dos Familiares e Vítimas de 08 de Janeiro (Asfav).
A provocação escancarou o que muitos já vinham cobrando nos bastidores: a falta de diálogo da comissão com setores que denunciam violações contra os detidos nos atos que marcaram o início de 2023. Evandro foi direto:
“Se a Comissão realmente se propõe a defender os direitos humanos, que abra as portas para ouvir todos os lados, inclusive aqueles que discordam da narrativa dominante.”
O enfrentamento ganhou ainda mais força após uma ação controversa de Fábio Félix e do deputado Gabriel Magno (PT) durante o Carnaval de Brasília. A dupla organizou um bloco de rua com recursos públicos, criado exclusivamente para gritar palavras de ordem como “Sem anistia” em alusão direta aos envolvidos no 8 de Janeiro. A iniciativa provocou revolta na direita, que considerou o ato uma afronta à pluralidade política e um escárnio com o uso de dinheiro público.
Fábio Félix, por sua vez, respondeu às críticas:
“Gritar ‘sem anistia’ para Bolsonaro incomoda os extremistas. Mas eu tenho bastante orgulho desta luta. Jamais poderia naturalizar um crime de quem tentou dar um golpe contra nossa democracia! A anistia neste caso seria aceitarmos de bom grado essa prática. Esta talvez seja a luta de nossa geração! Não adianta tentarem me intimidar!”, destacou o parlamentar.
A Asfav, criada para representar parentes e vítimas do que chama de “perseguição política”, acusa a comissão presidida por Félix de ignorar iniciativas populares e negar espaço institucional ao contraditório.
Um dos principais símbolos dessa pauta é Cleriston da Cunha, conhecido como Clezão, empresário que morreu na Penitenciária da Papuda após um mal súbito. Segundo a associação, a morte ocorreu após sucessivos apelos de soltura ignorados pelo STF. A entidade agora articula uma iniciativa popular que deve levar o nome de Clezão, como forma de homenagem e denúncia.
Para aliados de Evandro, o gesto foi certeiro: questionar o viés ideológico da comissão e cobrar coerência na defesa dos direitos humanos. Já defensores de Fábio Félix classificaram a iniciativa como manobra política para inflamar a pauta bolsonarista no DF.
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania e Legislação Participativa (CDDHCLP) tem entre suas atribuições investigar abusos, combater discriminações e garantir direitos fundamentais. Agora, o que está em jogo é sua capacidade de ouvir vozes fora da bolha progressista ou se continuará fechada ao debate plural sobre os desdobramentos do 8 de Janeiro.