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Novo Eixo Autoritário China e Rússia desafiam equilíbrio global com aliança estratégica sem precedentes

A intensificação da cooperação militar entre Rússia e China revela mais que uma aproximação circunstancial: representa uma transformação estrutural na geopolítica contemporânea. Um dossiê de 800 páginas, analisado pelo Royal United Services Institute (RUSI), em Londres, descreve como Moscou tem auxiliado Pequim em preparativos para um possível conflito em torno de Taiwan. Os contratos envolvem fornecimento de veículos anfíbios, sistemas antitanque e transporte de tropas, além de programas de treinamento e transferência tecnológica que permitem à China produzir internamente equipamentos avançados.

Historicamente, o Kremlin evitava compartilhar segredos militares com a China, receoso de espionagem industrial e perda de autonomia estratégica. O isolamento decorrente da guerra na Ucrânia, porém, alterou esse cálculo. Moscou passou a ver na ascensão chinesa uma oportunidade de reequilibrar o sistema internacional, reduzindo a dependência do Ocidente e enfraquecendo a hegemonia euro-americana.

Essa convergência vai além da cooperação militar: traduz a consolidação de um eixo autoritário global. Rússia e China compartilham uma visão revisionista da ordem liberal internacional, contestando normas multilaterais e relativizando os princípios democráticos. Sob Xi Jinping, Pequim combina poder econômico, controle ideológico e expansão militar, como se observa na militarização do Mar do Sul da China e na pressão constante sobre Taiwan. Já Moscou utiliza a parceria para mitigar sanções e ampliar sua influência no Sul Global.

Trata-se de uma aliança baseada em pragmatismo e afinidade política. Ambas rejeitam o modelo de governança liberal, valorizam a centralização do poder e instrumentalizam a informação como ferramenta de controle social. Essa lógica autoritária propõe uma nova arquitetura internacional, na qual a soberania nacional se sobrepõe ao direito internacional e a força substitui a previsibilidade das regras.

Nesse contexto, Taiwan tornou-se o epicentro simbólico da disputa entre dois modelos de ordem mundial. Democrática, inovadora e essencial para a economia global, a ilha representa um contraponto direto ao autoritarismo chinês. Sua defesa ultrapassa a dimensão regional: tornou-se um teste para a credibilidade das democracias e para a resiliência da ordem baseada em regras.

A resposta ocidental ainda é cautelosa. Alianças como o QUAD e o AUKUS buscam conter a influência de Pequim, mas a interdependência econômica com a China impõe limites à ação coletiva. O desafio das democracias é mais amplo que o militar: envolve restaurar a confiança no multilateralismo e reafirmar que liberdade e pluralismo continuam sendo pilares de estabilidade.

O fortalecimento da parceria sino-russa indica que a disputa pela ordem global não é apenas estratégica, mas civilizacional. De um lado, a visão liberal fundada em regras e instituições; de outro, a lógica autoritária que privilegia poder e soberania. O futuro do equilíbrio internacional dependerá da capacidade das democracias de agir com coesão, propósito e visão — antes que a força imponha, mais uma vez, o silêncio das regras

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Da Redação