Enquanto serviços e parte do comércio ainda sofrem restrições e ensaiam retomada – em São Paulo, as barreiras a esses setores começam a ser levantadas em 10 de maio –, a indústria está alguns passos na frente no processo de reabertura da economia em meio às medidas de isolamento para combater o coronavírus. As gaúchas Tramontina e Randon e a catarinense Weg operam perto da normalidade. As montadoras paulistas também começam a reabrir as portas, em movimento puxado pela sueca Scania.
Num cenário em que há pouco conhecimento disponível, pelo ineditismo das restrições impostas pelo coronavírus, o aprendizado do exterior – na Europa e, principalmente, na China – tem dado o tom para as indústrias que já religaram as máquinas. No menu de soluções para impedir a contaminação dos trabalhadores, está a medição da temperatura antes da entrada nas fábricas, a demarcação da distância de segurança entre pessoas, o uso de máscaras, a distribuição de álcool em gel, a interrupção do trabalho por avisos de higiene e o escalonamento de jornadas de trabalho e horários de almoço.
Segundo Regina Esteves, presidente da ONG Comunitas, que tem ajudado cinco estados brasileiros a definir estratégias para o combate ao coronavírus, as indústrias têm condições de sair na frente porque exigem apenas o deslocamento de funcionários. Dessa forma, sua influência sobre o isolamento social é menor. “Comércio e serviços exigem movimentação de clientes. Por isso, as fábricas podem ser mais facilmente controladas”, diz ela.
Regina acrescenta que, para que a retomada da indústria faça sentido econômico, o comércio e os serviços também precisariam voltar a oferecer as mercadorias que saem das linhas de produção – o que, neste caso, vai exigir o acompanhamento da evolução da doença. “Assim como a determinação do isolamento levou em conta a ciência, o mesmo tem de acontecer com a retomada da economia. A curva do vírus é muito mais acentuada nas capitais, então, a liberação do comércio e dos serviços deve começar pelo interior.” Na falta de diretrizes gerais para a retomada das atividades, esse trabalho de orientação tem sido desempenhado em grande parte por governadores.
Para o médico Marco Aurélio Safadi, professor de infectologia da Santa Casa de São Paulo, falta uma cobrança mais clara das autoridades sobre as regras de conduta das empresas para proteger os funcionários. Embora ele diga que os procedimentos adotados pelas grandes indústrias estejam corretos, ele lembra que talvez as empresas de menor porte – que, inclusive, fornecem para essas multinacionais – talvez não tenham condições de aplicar as mesmas regras. “É por isso que são necessárias diretrizes públicas do mínimo necessário de proteção aos trabalhadores no retorno às atividades”, afirma ele.
Fonte: 6minutos