Por Sandro Gianelli

Pesquisa de opinião
Nos últimos dias o Jornal Mineiro O Tempo publicou uma pesquisa do instituto DATATEMPO, que mostra a avaliação do governo Bolsonaro e dos governadores de todos os estados e do Distrito Federal. O levantamento contou com 2.025 entrevistas domiciliares em todas as regiões do país, entre os dias 9 e 15 de setembro, publicada na edição do dia 24/9 do jornal O Tempo. A margem de erro do levantamento é de 2,18 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é 95%.
Governo Bolsonaro
Segundo a pesquisa, quando o eleitor é questionado sobre a aprovação ou não da administração do governo Bolsonaro, 65,6% dos entrevistados desaprovam, 31,1% aprovam e 3,3% dos eleitores não souberam ou não responderam. Até aqui os dados estatísticos batem com o que foi divulgado pelo instituto de 2.025 entrevistas em todo o Brasil para um levantamento nacional.
Governo de Roraima
No caso do governo de Roraima a situação fica indelicada. Por lá, segundo a divisão de pessoas pesquisadas e conforme o percentual de moradores de cada estado. Temos uma quantidade insignificante para uma avaliação do governo do Estado. Segundo o IBGE, Roraima tem pouco mais de 650 mil habitantes. O Brasil tem pouco mais de 213 milhões de habitantes. Logo, o percentual de pessoas pesquisadas em Roraima é abaixo de 10. O que aumenta muito a margem de erro da pesquisa quando se trata da avaliação dos governadores. Ao nível nacional os dados estão corretos, mas em relação à avaliação dos estados, o percentual de acerto difere muito.
Governo Ibaneis

Segundo a pesquisa, o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), é o décimo governador pior avaliado por seus eleitores. Levantando a quantidade de pessoas entrevistadas no DF, algo em torno de 30 pessoas, temos a margem de erro de 18,2% para mais ou para menos.
43,2% aprovam
O levantamento diz que o governo Ibaneis é aprovado por 25% da população, outros 25% não responderam ou não sabem e 50% desaprova o governo. Na prática, com a margem de erro de cerca de 20%, podemos afirmar que a aprovação do governador Ibaneis pode chegar a 43,2%, bem diferente dos 25%.
Certo ou errado
Se o instituto abrir a quantidade de entrevistas realizadas por estado a margem de erro em cada estado diferirá da margem de erro relativa ao Brasil, o que mudará por completo os resultados. A pesquisa está errada ao nível nacional? Não. Já ao nível estadual os percentuais de margem de erro e intervalo de confiança seriam completamente outros.
Dados do DF
O DF corresponde a cerca de 1,4% da população do Brasil. Numa amostra de 2.025 entrevistas em todo o Brasil, foram proporcionalmente realizadas 28,35 entrevistas no DF. Essa quantidade de entrevistados daria a margem de erro de 18,2% e o intervalo de confiança seria de apenas 30%. Ou seja, se inúmeras coletas fossem realizadas em 70% dos casos as margens de erro seriam superiores a 18,2% para mais ou para menos.
Credibilidade
O que é esperado em relação às pesquisas eleitorais é que os institutos obedeçam aos parâmetros técnicos globais e usuais das estatísticas, além de seguir as normas eleitorais, com as quais se espera que os candidatos e contratantes estejam cientes e de acordo.
Pesquisa no DF
Pesquisa realizada por um instituto referência no DF, entre os dias 15 e 26 de agosto de 2021, com 4.090 pessoas entrevistas, margem de erro de 1% e intervalo de confiança de 98% mostra um resultado bem diferente. Quando perguntados se aprovam o governador Ibaneis Rocha, 48,1% aprovam, 44,5% desaprovam e 7,4% não souberam responder.
Estratégia
As pesquisas eleitorais são usadas tanto para a montagem de estratégias numa campanha, quanto para que os eleitores avaliem os rumos do pleito e definam seus votos.
Credibilidade
A falta de credibilidade sobre os levantamentos de intenção de votos ou avaliações de governos se reforça com denúncias de manipulação de dados. Sem o uso de estatísticas corretas o resultado pode ser considerado fraudulento. O que nos leva a questionar até que ponto as pesquisas eleitorais são confiáveis?
Reflexão 1
Se um grupo político escolhe fraudar pesquisas com o intuito de enganar eleitores e a opinião pública, o que farão caso alcancem o êxito e saia vencedor das urnas?
Reflexão 2
Será que um candidato que manipula dados estatísticos numa eleição não estará mais propenso em manipular dados das contas públicas ou atos de sua gestão? Se a sua resposta for sim, o que está em xeque não é só a confiança das pesquisas, mas o crédito e o voto dado à candidatos que lançam mão dessa artimanha.
* Sandro Gianelli é consultor em marketing político, jornalista e radialista. Escreve a Coluna do Gianelli no Portal Conectado ao Poder e apresenta o programa Conectado ao Poder na rádio Metrópoles.
Fonte: Conectado ao Poder