Setor de gás busca soluções para acelerar o crescimento do mercado brasileiro 

Flexibilidade e liquidez na oferta de gás, projetos de estocagem de gás, Bolsa de Gás Natural e papel do gás na transição energética nortearam os painéis do Seminário de Gás Natural, do IBP, na tarde de quinta-feira (15), no Rio de Janeiro.

“Dá pra fazer muito mais com as opções que já estão sobre a mesa.” O recado foi dado pelo CEO da Origem Energia, Luiz Felipe Coutinho, no CEO Talks do Seminário de Gás Natural, do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), na tarde desta quinta-feira (15), no Rio de Janeiro, em diálogo conduzido pela gerente geral de Petróleo, Gás, Energias e Naval da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Karine Fragoso. O evento contou com a presença de 882 participantes e representantes de 7 países. “Foram dois dias de jornada de muito conhecimento”, destacou o presidente do IBP, Roberto Ardenghy. Além do aumento do público, o Seminário registrou 40% de mulheres participantes.
 

“O Brasil tem pouco gás comparativamente à Rússia e aos EUA, mas precisa aproveitar de maneira otimizada o pouco gás que tem. Isso não está acontecendo hoje. A estocagem está aí para mostrar isso e ela é fundamental para endereçar a questão do balanceamento”, exemplificou o Luiz Felipe Coutinho, destacando o projeto de estocagem de gás natural da Origem Energia com a TAG em Alagoas, com investimento de R$ 1 bilhão e capacidade total de 1,5 bilhão de metros cúbicos de armazenagem nos campos depletados do Polo de Alagoas. Segundo ele, o gás natural vem se tornando uma commodity líquida em um cenário de mudança na demanda de energia.
 

A vice-presidente de Marketing e Supply da Equinor Brasil, Cláudia Brun, também percebe um entendimento diferente hoje diante das mudanças geopolíticas globais. “O crescimento da demanda de energia hoje é incerto, considerando o incremento esperado do consumo da Inteligência Artificial. É difícil prever como será atendida essa demanda, mas as energias renováveis são intermitentes e as térmicas estão aí para dar segurança ao sistema, permitindo ter mais energia renovável”, comentou Cláudia, no CEO Talks em diálogo com a diretora do Centro de Regulação em Infraestrutura (FGV CERI), Joisa Dutra.
 

A executiva citou o recente apagão de energia na península Ibérica como exemplo desta mudança de entendimento sobre o papel das térmicas a gás. Na visão dela, há muito espaço para o gás natural no processo de transição energética, “vamos precisar usar todas as ferramentas disponíveis para atingir as metas de descarbonização”.
 

Bolsa de gás natural: agilidade e segurança
 

No painel “Flexibilidade e liquidez: Caminhos para o amadurecimento do mercado de gás brasileiro” foi apresentada a recém-criada empresa Bolsa Brasileira de Gás Natural (BBGN), que ambiciona criar uma plataforma eletrônica para a realização de transações de contratos bilaterais e spot, essencial para dar mais liquidez e reduzir os custos de transação no mercado de gás.
 

“A plataforma vai facilitar a conexão da oferta com a demanda, oferecendo mais transparência e flexibilidade para fechar negócios. É um passo extremamente estratégico dentro do desenho regulatório para trazer mais liquidez, mais agentes, e fomentar a concorrência e o amadurecimento ao setor”, disse Antonio Guimarães, sócio fundador da Bolsa.
 

Flávia Barros, diretora comercial da Origem Energia, ressaltou a evolução recente do mercado com a entrada de novos agentes, mas pontuou que falta muito para a entrada de consumidores livres de forma massiva. “Há algumas barreiras de entrada que precisamos destravar, como o custo transacional do transporte e a falta de um mix de produtos para atender todas as necessidades. Precisamos percorrer ainda esse caminho”.
 

Luisa Franca, diretora de Desenvolvimentos de Negócios na TAG, destacou o papel que o segmento de transporte vem desempenhando no desenvolvimento do mercado e defendeu a simplificação dos contratos como forma de acelerar esse processo. “Estamos trabalhando para que os contratos sejam padronizados, mais simples, de modo a atrair mais a demanda e criar um mercado com mais flexibilidade”.
 

Já o diretor de gás natural da Galp, Thiago Arakaki, reforçou que o mercado está em evolução, o que fica claro a partir do aumento do número de contratos, agentes e novos negócios. O executivo citou como exemplo a trajetória da própria Galp: “Começamos com um grande contrato com a Bahiagás, (…) depois evoluímos para outros com consumidores livres”.
 

Por fim, Thiago Arakaki lançou um olhar positivo sobre o futuro do setor, mas destacou a necessidade de desenvolvimento do mercado brasileiro, citando como exemplo o mercado europeu que se encontra em um grau de maturidade mais elevado.
 

Rumo a COP 30
 

No painel que discutiu o gás natural como foundation fuel da transição energética justa equilibrada e segura, foi mostrado que, atualmente, a matriz energética mundial ainda depende muito dos combustíveis fósseis, sendo o petróleo responsável por aproximadamente 31% da matriz energética e o gás natural por 24%. Neste contexto, Carlos Garibaldi, secretário executivo da Arpel – organização que reúne empresas de óleo, gás e renováveis da América Latina e do Caribe –, disse que o gás natural precisa ser visto como uma ponte no processo de transição energética. Além disso, ele reforçou que, nas COPs anteriores, foi discutida a importância do desenvolvimento de fontes de energia de baixa emissão e que o gás natural se enquadra nesse quesito, sendo fundamental para garantir a segurança energética nos cinco continentes.
 

Christopher Gonçalves, managing director da BRG’s Energy & Climate, destacou o Brasil como o centro da demanda de gás natural liquefeito (GNL) na América Latina até a próxima década. “A vantagem do GNL está na flexibilidade em relação a outras opções de abastecimento para geração do mix de energia”, comparou.
 

Já o presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, Luiz Eduardo Barata, entende que o MME deve iniciar logo a reforma do setor elétrico, com a participação dos consumidores e todos os demais atores do setor. “Esperamos que o MME faça uma ampla reformulação, abrangendo os aspectos operacionais, comerciais e de planejamento do setor. Se nada for feito, temos risco de passar por um colapso nos próximos anos”, afirmou. Luiz Barata ainda reforçou que uma das preocupações da Frente Nacional é reduzir o preço da energia e fornecer segurança e sustentabilidade para o setor elétrico e que eles consideram o gás natural como um energético importante nesse processo, mas que precisa ser considerado como uma fonte complementar a outras.
 

Para Viviana Coelho, gerente-executiva de mudança climática e descarbonização da Petrobras, embora a intensidade de carbono do setor energético esteja em trajetória de queda, o aumento do consumo vai anulando esses ganhos. “Nos últimos cinco anos, a intensidade de carbono da matriz mundial caiu 13% a 15%. Mas as emissões totais de gases de efeito estufa na caíram porque o consumo primário de energia aumentou”, explicou ela. A gerente-executiva reforçou a relevância do gás natural na redução de emissões e destacou que o mundo precisa investir também em eficiência energética.
 

O Seminário de Gás Natural 2025 é patrocinado pela Petrobras, Equinor, Galp, Origem, Shell Energy, NTS, PanAmerican Energy, Prio, Repsol Sinopec Brasil, TAG, TBG, TotalEnergies, Eneva, Naturgy, Edge, Faveret Tepedino Londres Fraga, Machado Meyer e New Fortress Energy, além da participação do Governo Federal. Os parceiros de mídia são eixos, Petro&Química e Tn Petróleo. Ele ainda conta com o apoio institucional da Abegás, ABESPetro, ABRACE, ABRACEEL, ABRAGET, ANP, Arpel, ASPACER, ATGÁS, COGEN, Firjan e Instituto de Energia da PUC-Rio (IEPUC).

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