Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia, nesta semana, uma das reuniões mais aguardadas do ano. A taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, atingiu um nível que pode ser qualificado como de restrição monetária severa. Esse patamar resulta de um ciclo de aperto iniciado em 2024, cujo objetivo foi reancorar as expectativas de inflação em um contexto de choques externos, volatilidade cambial e aumento das pressões sobre os preços de serviços e bens não comercializáveis.
Do ponto de vista estritamente econômico, o cenário que se impõe é o de manutenção da taxa de juros. A inflação corrente apresenta sinais de acomodação, mas ainda não há evidências robustas de convergência para a meta. Os núcleos de inflação seguem elevados, especialmente em serviços, o que sugere a persistência da inércia inflacionária. Além disso, o hiato do produto, embora esteja se estreitando em função da desaceleração do crédito e da atividade, ainda não oferece garantias suficientes para justificar o início de um ciclo de flexibilização.
Contudo, seria ingênuo ignorar a dimensão política desta reunião. O embate entre o Executivo e a autoridade monetária elevou o custo de coordenação das expectativas. A insistência do governo em atribuir à política de juros a responsabilidade pela fragilidade do crescimento reforça a percepção de risco institucional, fragilizando o canal da credibilidade, justamente o ativo mais valioso para a eficácia da política monetária. Em outras palavras, quando a autonomia do BC é questionada, o prêmio de risco aumenta, as condições financeiras se deterioram e a política monetária se torna menos eficiente.
Nesse contexto, o verdadeiro impacto desta reunião não se limita ao número final da Selic, mas reside no comunicado do Copom. O tom adotado poderá indicar se a autoridade monetária seguirá priorizando o compromisso com a estabilidade de preços, mesmo diante de pressões políticas, ou se cederá espaço para uma retórica mais conciliatória em relação à atividade. Na primeira hipótese, sinalizará juros elevados por um período mais longo, em linha com o que os modelos de regras monetárias sugerem. Na segunda, poderá abrir caminho para cortes graduais, ainda que com o risco de desancoragem das expectativas.
A decisão, portanto, transcende a aritmética da taxa de juros: trata-se de um teste sobre a solidez institucional do país. A política monetária é, em última instância, uma política de credibilidade. E a credibilidade, uma vez erodida por tensões políticas, exige um custo de reconstrução significativamente mais elevado do que o da preservação de sua integridade. O Copom, nesta semana, decide sobre muito mais do que a Selic: tratará da confiança no arcabouço macroeconômico que sustenta o desenvolvimento de longo prazo do Brasil.
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